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Resolução do Contrato por Inexecução Voluntária: Fundamentos, Aplicação e Doutrina Aplicável

Trata-se de um remédio jurídico concedido à parte lesada para encerrar a relação contratual, evitando que o inadimplemento de uma das partes cause prejuízos desproporcionais.

1.1 Previsão Legal

  • Art. 475 do Código Civil:

    “A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.”

  • Art. 389 do Código Civil:

    “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária, segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”

Dessa forma, o credor tem duas opções:

  1. Exigir o cumprimento forçado da obrigação (execução específica).
  2. Pedir a resolução do contrato, cumulada com indenização por perdas e danos.

2. Fundamentos Doutrinários

2.1 Orlando Gomes

Para Orlando Gomes, a resolução do contrato por inexecução voluntária é uma medida excepcional, aplicável quando o inadimplemento compromete o equilíbrio contratual e a confiança entre as partes.

“O inadimplemento voluntário revela desrespeito ao princípio da boa-fé, autorizando a parte lesada a resolver o contrato para evitar prejuízos irreparáveis.”

  • Gomes, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2023.

2.2 Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho

Os autores destacam que a resolução por inexecução voluntária está atrelada à gravidade do inadimplemento, que deve inviabilizar a continuidade do contrato.

“A resolução do contrato deve ser medida com cautela, especialmente quando há indícios de má-fé ou intenção deliberada de descumprimento.”

  • Stolze, Pablo; Pamplona Filho, Rodolfo. Manual de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2023.

2.3 Clóvis Beviláqua

Beviláqua argumenta que a culpa do inadimplemento deve ser analisada no caso concreto, evitando a aplicação automática da resolução quando houver possibilidade de conciliação ou ajuste.

“A resolução por inexecução voluntária é um ato de justiça corretiva, que busca restabelecer o equilíbrio rompido pelo inadimplemento doloso.”

  • Beviláqua, Clóvis. Código Civil Comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2022.

2.4 Judith Martins-Costa

Para Martins-Costa, a resolução deve observar os princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato, evitando soluções desproporcionais.

“A resolução contratual deve ser aplicada de forma proporcional, observando a confiança depositada pelas partes no vínculo contratual.”

3. Requisitos para a Resolução por Inexecução Voluntária

Para que seja possível pleitear a resolução contratual, alguns requisitos devem ser observados:

  1. Inadimplemento Inequívoco: A obrigação deve ser descumprida de forma clara e objetiva.
  2. Culpa ou Dolo do Devedor: O descumprimento deve ser voluntário ou intencional.
  3. Gravidade do Inadimplemento: O descumprimento deve ser suficientemente grave para frustrar a finalidade do contrato.
  4. Inviabilidade de Cumprimento Forçado: Não deve haver outra alternativa razoável para preservar a eficácia do contrato.

4. Jurisprudência sobre Resolução por Inexecução Voluntária

4.1 STJ – REsp nº 1.201.662/SP

O Superior Tribunal de Justiça decidiu que, quando há inadimplemento substancial, mas não intencional, a resolução do contrato deve ser afastada, priorizando-se o cumprimento forçado da obrigação.

4.2 STJ – REsp nº 1.125.133/RS

O tribunal entendeu que a resolução do contrato é cabível quando o inadimplemento voluntário frustra a finalidade essencial do negócio jurídico, tornando inviável sua continuidade.

4.3 STJ – AgRg no AREsp nº 1.086.292/DF

O STJ reforçou que a função social do contrato deve ser respeitada, de modo que a resolução deve ser proporcional ao prejuízo causado pelo inadimplemento voluntário.

Tese Firmada: A resolução do contrato por inexecução voluntária exige análise cuidadosa do caso concreto, observando a gravidade da infração e a viabilidade de cumprimento alternativo.

5. Aplicações Práticas para Advogados

5.1 Assessoria Preventiva:

  • Revisar contratos para prever cláusulas claras sobre inadimplemento, resolução e indenização.
  • Estabelecer penalidades proporcionais para descumprimentos voluntários.

5.2 Estratégia Processual:

  • Buscar provas robustas do inadimplemento voluntário (documentos, comunicações, perícias).
  • Analisar se a resolução é a solução mais adequada ou se o cumprimento forçado seria mais benéfico.

5.3 Mediação e Conciliação:

6. Conclusão

A resolução do contrato por inexecução voluntária é um mecanismo fundamental para proteger a parte lesada e garantir que o inadimplemento intencional não fique impune. Ao mesmo tempo, sua aplicação deve ser criteriosa e proporcional, respeitando os princípios da boa-fé objetiva, função social do contrato e equilíbrio contratual.

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